domingo, 24 de junho de 2007

Entrevista: Mark Warschauer

Entevista dada a agencia Webinsider

Mark Warschauer é professor de Educação e de Informação & Ciência da Computação na Universidade da Califórnia, além de fazer parte do Centro de Estudos em Tecnologia da Informação e Organizações.

Há anos estudando o impacto social das ações de inclusão digital em países da América Latina, ele já esteve mais de uma vez no Brasil para conhecer as atividades do CDI, dos Telecentros em São Paulo e de outros projetos paralelos. Autor do livro “Tecnologia e Inclusão Social: repensando a divisória digital”, ele também edita o periódico Aprendizado de Linguagem & Tecnologia e nos concedeu esta entrevista exclusiva.

- Quais os projetos brasileiros de inclusão digital que você mais conhece?

- Para elaborar o livro, viajei para o Brasil e conheci bastante o Sampa.org, o CDI, o Projeto Clicar e alguns telecentros do Governo de São Paulo. Fiquei particularmente impressionado com o trabalho do CDI, pois há muita coisa ali que realmente funciona e são bem atraentes. Primeiro, porque eles estão conseguindo atingir locais e comunidades onde há, de fato, uma necessidade de inclusão digital. Segundo, conseguem recursos de várias fontes, induzindo à inclusão social de jovens pela digital.

- É possível falar em inclusão digital em um País como o Brasil, onde os índices sociais são baixos, a economia é desigual e o desemprego é gritante? Projetos de computadores populares, como ocorre há anos por aqui sem sair do papel, funcionam?

- Depende. Os projetos de inclusão digital são de extremo valor para melhorar esses índices, desde que coordenados de forma apropriada, sem populismos e sem discursos vazios. Por outro lado, a idéia tipicamente governamental de empurrar computadores em todas as casas pode ser um tiro no pé e gerar um efeito exatamente contrário à melhoria social. O Brasil não é a única nação do mundo a tentar fazer isso, então, deveriam olhar o que foi feito lá fora, em cenários semelhantes, para não cometerem os mesmos erros.

- Como assim?

- Empurrar computadores nas casas apenas com incentivos governamentais não é produtivo, porque o dinheiro investido na idéia poderia ser utilizado em projetos de economia social e desenvolvimento, os quais podem envolver tecnologia ou não. Mas vender computador por vender, independente do preço, não melhora a qualidade de vida de ninguém. O acesso à ferramenta [computador] é importante, porém, com um sentido mais amplo e coletivo de melhoria social.

- E qual seria a solução?

- O acesso às mídias digitais não é uma exclusividade da elite. Há vários caminhos de melhorar o cenário atual de exclusão, com relações custo/benefício razoáveis. A instalação de computadores nas escolas, por exemplo, é uma das alternativas que se mostraram mundialmente eficientes nos países em desenvolvimento - desde que seja levada a sério, com instrutores, equipamentos funcionando e diretrizes claras. São essas as grandes dificuldades. Em geral, o pessoal envia os computadores, discursa, sai no jornal e pronto. Cada um que se vire. Com diretrizes sérias, o aluno não apenas aprende o que tem que aprender na sala de aula, mas também sai da escola com um ofício. A longo prazo, é notória a inclusão social que ações assim podem gerar.

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